Tenho encontrado muitos cristãos que, ao serem indagados de como estão, afirma que está tudo bem, pois com Jesus no barco, tudo vai bem. Que pena! Percebo que, na verdade, a fala foi só uma desculpa para não assumir que a vida está um a bagunça, ou pelo menos ficará dali algumas horas. Ou quem sabe foi uma palavra de Fé vinda de uma boca profética... Aquilo que hoje se confunde com o pensamento positivo ou a triste ilusão de querer ser o que não é.
Tenho descoberto um novo Deus. Não mais aquele que vai me proteger se eu fizer uma oração antes de sair de casa, ou mesmo aquele que espanta todos os males pelo ato da reza do terço. Diziam-me que bastava agradar a Deus e nenhum mal chegaria a minha tenda, foi assim que interpretaram a palavra sagrada. Disseram-me também que Deus está me observando, computando meus erros para passar na minha cara quando eu tirasse uma nota ruim no colégio, ou talvez não conseguisse aquele desejado emprego. Não, não, não. Não creio mais em um Deus tão pequeno e tão egoísta. Não quero uma religião de ritos, onde sou perdoado pelo simples sujar a testa de cinzas, ou pelo contar bolinhas.
Olhe ao redor e veja como é assustador o numero de pessoas que morrem todos os dias. Mas porque elas não chamaram por Deus, ou não fez uma oração ao sair de casa!? Mas porque morreu o pastor, se ele era um homem de Deus? Como pode um fiel ao Senhor ser assaltado, ou mesmo sequestrado? E o que dizer dos milhares de estupros? Parece que o Deus que me apresentaram não é tão poderoso quanto diziam, ou talvez ele não seja exatamente como me disseram.
Na verdade, não encontro nas páginas do sagrado livro nenhuma garantia de vida sem problemas ou situações difíceis, apesar de ter interpretado o “posso todas as coisas” de Paulo como uma forca sobrenatural para conquistar tudo que gosto ou assumir o poder que pretendo. Pelo contrario, é nesse “posso todas as coisas” que encaro a dificuldade, tanto sabendo lidar com a bonança, quanto lidar com a tempestade, escassez ou fartura, doença ou saúde, defeitos ou virtudes... No mundo terei aflições...
Aceitar a Jesus não é obter um passaporte para a facilidade em tudo, pelo contrario, os que o aceita precisam renunciar o direito de estar bem, pois é um constate trabalhar que opera em nós em todo tempo. Ver o quanto sou defeituoso e sentir o doloroso processo de ser curado. Ser moldado pelo que é perfeito e sabe viver. Ter que deixar de lado o confortável orgulho humano e pedir perdão, aprender a amar de verdade, destinar meu falho amor aquele que é perfeito e aos que comigo caminham, isso é ter Jesus no Barco.
Se buscarmos a referencia veremos que os que querem viver piedosamente em Cristo, os verdadeiros, serão perseguidos. Não a perseguição religiosa ou dos familiares que não aceitam nossa conversão apenas, mas a perseguição dos erros e defeitos latentes. Nossa fome de poder e dinheiro que não é saciada, assim com uma sanguessuga de caráter constante.
A despeito de tudo isso, aceito todos os dias que Jesus esteja em meu barco, pois há vantagens nisso. O texto de Mateus 8 diz que Jesus estava no barco, dormindo, enquanto os discípulos enfrentavam uma forte tempestade lá fora. Primeiro é bom saber que nosso Deus não tem um histórico de lutas evitadas para se gabar de vitória, na verdade, todos que temeram lutar venceram, mas não sem passar pela terrível luta. A promessa é de que se bebermos algo mortífero não nos fará mal, não que não beberíamos algo mortal. Assim, fico certo de que passarei por dificuldades, que chorarei e posso até me desesperar, mesmo quando Jesus está no barco, mas também me conforto em saber algumas verdades: 1. Se estou em processo de mudanças é porque Jesus está em mim e que meu barco é um lugar que ele gosta de estar, ao ponto de descansar nele. 2. Com Jesus no barco eu sou levado a exercer Fé em todo tempo. 3. Com Jesus no barco tenho o privilegio de contemplar milagres a todo tempo, sempre que me deparar com minha limitação, assim como foi até hoje ,com os momentos em que eu achei que não daria certo, mas escrever isso agora é provar que deu certo sim. 4. É com Jesus no barco que minha alma pode declarar como ele é tremendo e como todas as coisas em mim e fora de mim se submetem a ele.
Mais dias virão e eu estarei remando com Jesus no barco, mas sabendo que com Ele por perto, nada é tão fácil.
Amilton Joaquim
01.06.2011